O dia amanheceu radioso, com os pássaros a entoar melodias que me são familiares, despoletando doces lembranças e saudades subtis.

As nuvens contam-se pelos dedos de uma mão e tomam a forma de anjos de asas transparentes.

Abro a janela e entra luz e vida, e logo sinto o Verão e a vontade de rasgar velhos pensamentos e despir a roupa pesada, para sentir a leveza de marcar a areia com os pés descalços.

Quero que a brisa e o mar tomem conta de mim, me invadam e me transbordem, numa dádiva do tempo carregada de desprendimento.

Quero seguir sem norte, dispensando a bússola, dormir em tapete de relva e fazer morada nos meus sonhos.

Quero colher amoras silvestres e quando a luz for demasiado intensa, e o calor apertar, encontrar uma boa sombra e uma nascente de agua fresca.

Quero usufruir das tardes azuis que se prolongam, desmaiando lentamente, atenta aos seus fascinantes detalhes.

Quero absorver a energia das marés, transportar no cabelo molhado o sal desse mar, que transporto comigo no olhar.

Quero escrever poesia em noites de luar, inspirada nessa magia que me fascina, num tempo sem medida.

Este deve ser o sítio que fica mais perto do céu!

(Manuela Resendes)