Palavras ao vento (3)

Partilho abaixo mais um dos textos que elaborei no âmbito da minha participação no campeonato de escrita criativa. Espero que seja do agrado de todos…

Aldeia da Bruxa

Numa aldeia remota, Veneranda era conhecida por fazer feitiçarias e lançar maus-olhados, o que intimidava os seus habitantes. Todos os dias Veneranda visitava o cemitério, acompanhada pelo seu gato pardo, onde se dizia que recolhia materiais para os seus feitiços. Quando passava no centro da aldeia, os habitantes efabulavam grandes histórias sobre o seu passado a partir de ínfimas verdades, e alguns até chegaram a propor expulsá-la daquele lugar.

Revoltada com essa situação, Veneranda lançou uma maldição sobre a aldeia, fazendo saber que grandes tragédias sobreviriam sobre todos se uma certa frase de dúvida ecoasse em público. Entre descrentes e temorosos, estes mais que os primeiros, a população resolveu pedir ao pároco que abençoasse a aldeia, por forma a afugentar qualquer poder oculto.

Depois daquele tempo de sobressalto, aquela proteção divina esbateu o medo, os anos passaram e tal assunto caiu no esquecimento, sendo que para os mais novos passou a ser uma história divertida sobre crendices de antepassados mais ou menos longínquos.

Mas era nos animados serões em casa de Manuel que este tema voltava à baila, com a animação e leveza que só o vinho oferece. Era um homem abastado, com terras, gado e vinhas, que julgava que pelas muitas esmolas que oferecia se redimia.

A Manuel faltava, contudo, a presença do seu filho, que após estudar em Lisboa por aí criou raízes. Numa das raras visitas à família, este questionou quem era aquela mulher estranha que via a caminho do cemitério. Em ambiente jocoso, foram-lhe explicando as peculiaridades de Veneranda e a maldição que pendia sobre a aldeia. Foi quando o visitante se apressou a acrescentar

– Se fosse verdade já tinha acontecido.

Conta-se que a partir desse momento uma série de acontecimentos nefastos se abateram na aldeia, que passou a designar-se por aldeia da Bruxa.  

(Manuela Resendes)

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