O Francisco tem apenas horas de vida mas já conseguiu inundar os nossos corações de alegria, fazer-nos sentir um Amor transbordante e uma vontade infinita de o proteger nos nossos braços.
O “nosso” bebé também ainda nāo sabe que chegou a um mundo virado do avesso, a que também nós nos estamos a habituar a viver. Por isso as fotos e os ecrãs são por estes dias a única forma que temos de acompanhar este momento tão especial das nossas vidas.
Chegaste como um prenúncio de Primavera, com perfume de novidade, espaço onde podem germinar todos os sonhos, e com uma luz que varreu as nuvens de dias sombrios.
Tens um nome que nos vai saber bem pronunciar, remetendo para felizes lembranças, mas o que vemos através dos teus olhos é um futuro cheio de promessa, onde te queremos ver feliz e completo.
Em dias de maior tempestade, seremos o teu abrigo, pois tens a sorte de ter tanto colo para te acolher, Meu Amor Pequenino.
Durante uma fase da minha vida senti que pertencia a vários lugares mas que não tinha as “medidas padrão ” que me permitissem encaixar em algum deles. Esse sentimento de não pertença a um lugar provocava-me uma sensação de algum desamparo.
Como a planta que colhemos pela raiz, à qual roubamos a oportunidade de florir, no caminho percorrido até aqui senti muitas vezes a fragilidade de uma maturidade roubada à infância.
O percurso não foi linear, fui-me ajustando, defendendo, sentindo-me tantas vezes invisível, e outras tantas em destaque fruto de um trabalho silencioso e persistente, mas sem saber lidar com uma pele que não se ajustava ao corpo. Quanto mais mundo, mais rica é a vida, quanto mais experiências, mais ensinamentos, quanto mais questões resolvidas mais perguntas surgem.
Mas aos poucos aprendi a confiar em mim, a vincar a minha identidade e a potenciar as minhas capacidades, acreditando na bondade dos caminhos longos, percorridos numa solidão consentida. Fiz assim a ligação do passado ao futuro, adquirindo uma serenidade e bem estar que me permite viver de forma harmoniosa, quer com o meu mundo interior , quer com a realidade que me rodeia.
Hoje vivo sem ressentimentos nem angústias, olhando sempre o lado bom das coisas, exultando com as alegrias próprias e dos que vivem no meu coração, e ultrapassando as dores da vida com serenidade e capacidade de aceitação.
Agora percebo que há um sitio que nos pertence, onde estão as nossas raízes, ponto de partida para todo o tipo de viagens onde voltamos sempre por ser o abrigo mais aconchegante do mundo.
Que a vida me permita sempre ter esta curiosidade quase infantil de olhar para o que está para além do horizonte e sentir vida a acontecer…
Todos nós temos aquelas gavetas misteriosas, onde se escondem tesouros de um passado guardado num recanto da nossa memória.
Posso encontrar mapas de estradas já percorridas, relógios onde o tempo parou ou fotos de um registo feliz; ainda roupas de encenação de outros tempos, cartas escritas com muita emoção ou poemas que nunca viram a luz do dia.
É uma viagem de sensações, em que a novidade está no que já foi vivido, onde se encontra o que nunca se perdeu e se avistam horizontes carregados de nostalgia.
E vem-me à memória um dia de chuva, um cheiro a perfume, uma casa fechada…
Lembranças reencontradas, como se as não tivesse sempre possuído, dum património silencioso sempre à espera de ser revisitado.
Esta é uma frase que tantas vezes dizemos a amigos e familiares, e ouvimos outras tantas, mas que muitas vezes nāo se traduzem em atos, quando é verdadeiramente preciso estar presente.
Hoje comemora-se o Dia Mundial do Doente, e se há situação em que ter um amigo por perto dá um conforto inexplicável é quando nos sentimos doentes. Quer pelas limitações físicas, que roubam autonomia, quer pela vulnerabilidade acolhida ou pela solidão sentida, o calor de um abraço solidário é o que permite encontrar as respostas sábias.
O “conta comigo” nāo pode corresponder a palavras vazias, de circunstância ou de cortesia; têm de ser sentidas, porque podem ser a luz em horas de abandono ou em noites que parecem nāo ter fim.
É estar quando a coragem dos dias antigos vacilar, e ajudar a encontrar o caminho onde a identidade se perdeu. É estar em silêncio, ou ouvir a musica preferida, encontrando o espaço certo para encaixar na necessidade do outro.
É deixar que o eco das palavras faça ressoar uma mensagem de coragem e esperança nas ausências consentidas.
“Conta comigo” é chegar antes de ser necessário, antecipar dias de solidão e acolher a vulnerabilidade, porque a vida faz muito mais sentido se soubermos partilhar os bons e os maus momentos!
Fui desafiada pela Chiado Editora para contribuir com um poema da minha autoria para o livro “Entre o sono e o sonho”.
O meu poema reuniu os critérios para ser incluído no referido livro, não podendo deixar de fazer um agradecimento à Chiado Editora por mais esta oportunidade de dar a conhecer a um publico mais vasto um pouco da minha escrita. Não posso também deixar de agradecer a todos aqueles que seguem o meu blogue e que todos os dias me incentivam a prosseguir nesta caminhada.
As nuvens de cinza escuro movem-se com a urgência da descarga, o vento sopra forte de norte e a chuva cai de forma raivosa.
Vejo olhares vagos, perdidos num tempo sem medida, e gestos meigos escurecidos de silêncio, fugindo de lengalengas fastidiosas e inférteis.
Ouço um murmúrio de queixume e o alento vai esmorecendo como o arome do perfume, restando uma coragem feita de cansaços.
E quando o sol desaparece a poente, os pensamentos surgem alados de medos prematuros, tocando as arestas do futuro.
Mas há sempre um novo raiar, que nos permite olhar os amplos horizontes e encher de novo a alma de uma energia retemperadora que nos reconcilia com a vida, vendo em cada gota de orvalho o germinar de um tempo harmonioso.
Que nestes tempos incertos nunca nos faltem os Sonhos e a Fé…
Na sequência do desafio lançado pela Editora Letras Lavadas para escrever uma carta a um amigo/a no âmbito das comemorações do dia de Amigos/as, tradição açoriana que este ano devido à pandemia teve de ser feita à distância, dei o meu contributo com a escrita de uma missiva endereçada a um amigo de infância.
Estas cartas foram publicadas pela referida editora no e-book “Longe da vista, mas perto do coração“, que pode ser consultado através do link letras lavadas.pt, sendo o download gratuito.
Partilho aqui a carta com que respondi ao referido desafio….
Meu Caro Luís,
Espero que esta carta te encontre bem, apesar das circunstâncias mais difíceis e desafiantes que estamos a viver. Mas como tantas vezes dissemos, a vida é feita de saltos e sobressaltos e são os amigos a tecer a rede que nos ampara ou serve de trampolim para voos mais altos.
Nestes dias mais introspetivos dei por mim a pensar nas nossas brincadeiras de infância, e no quanto ficávamos felizes com as pequenas transgressões, como saltar na poça com mais água ou visitar aquele vizinho que tinha sempre uma história engraçada para contar, atrasando o regresso a casa, com a consequente repreensão.
Mais tarde eram as longas conversas, em que tudo era questionável, fazendo-nos perder a noção do tempo, mas ganhando estatuto de gente crescida com opiniões bem demarcadas e sentindo-nos donos da verdade.
E foi-se gerando assim uma tal cumplicidade entre nós que um olhar, ou um silêncio, era imediatamente percebido, e o seu significado descodificado. Os sonhos eram também eloquentes, com projetos conjuntos com grande impacto no futuro da humanidade.
Entretanto quis o destino que a nossa vida decorra separados pelo mar, mas sempre soubemos transmitir a coragem, o otimismo e o alento de que o outro precisa.
Quantas vezes depois de um momento triste acabámos com uma gargalhada, desconstruindo e tornando mais leve a realidade, inventando soluções quase mágicas, nesta conexão mental que perdura, apesar do tempo e da distância.
E enquanto te escrevo espreito pela janela e um raio de sol rasga o cinza do céu deste dia nublado e triste, e avisto a roseira que um dia me ofereceste acompanhada de uma mensagem que me acompanha até hoje, que não, sei se te lembras, dizia o seguinte: “mesmo as rosas vermelhas de que tanto gostas, apesar da sua beleza, têm espinhos; a vida também é assim…”. Com esta recordação o dia ganhou um novo colorido, e ao ver os botões de rosa a desabrochar livremente, indiferentes ao que se passa á sua volta, senti-me voltar à infância com uma inocente sensação de liberdade.
E como a carta já vai longa, despeço-me na esperança de um reencontro breve e na expetativa de receber notícias tuas.
Um grande beijinho desta tua amiga que te traz sempre no coração.