Abro a janela ao acordar e a brisa sopra já com aroma de Outono. As tardes de um tempo não cronometrado, estendendo-se de forma lenta e tranquila até ao colorido pôr do sol, vão perdendo o brilho estival.
A vida volta a ter a agitação do regresso às rotinas já conhecidas, onde as promessas de mudança se vão esfumando na implacável voragem do tempo.
Estar mais, ser mais e fazer mais foram anseios de alegres e prolongados convívios, em serões de noites temperadas e serenas de Verão.
Percebemos a necessidade de mudança, encher de plenitude o vazio dos passos que não levam a lugar nenhum, dos caminhos percorridos mecanicamente em que não nos damos nem nos realizamos, ampliar a nossa luz de forma a melhor poder alumiar o nosso futuro e o de quem nos rodeia.
Vivemos neste pragmatismo consumista, alimentando falsas necessidades, pensando ser esse o caminho de aliviar as frustrações, num ciclo vicioso de insatisfação geradora de solidão e violência, que tal como o vulcão adormecido explode a qualquer momento rasgando das entranhas o caminho para soltar a lava, como um grito de revolta.
Por medo do desconhecido adiamos sempre a mudança para o momento ideal, que sabemos nunca chega.
Mas em algum momento teremos de recuperar a sensibilidade, de valorizar a dádiva e a gratidão, perceber que apesar da sua não linearidade a vida é de uma desconcertante simplicidade para quem souber enxergar a beleza de um olhar, do desabrochar de uma flor ou do impacto de uma palavra solidária.
Vamos ousar ser o motor da mudança!
(Manuela Resendes)