Nestes tempos de pandemia o meu olhar tem estado particularmente atento à população idosa do nosso país, descortinando os seus medos e fragilidades.

Já habituados a viver em “confinamento”, e sofrendo de solidão, os poucos afetos e atenção que recebiam por parte de familiares e amigos têm-lhes sido roubados, por serem os mais vulneráveis à doença provocada pelo vírus Covid-19.

São muitas vezes subestimados e desvalorizados pela sociedade, vistos como um obstáculo, nas maratonas diárias da sociedade de consumo, formatadas para produzir valor.

Perdem-se num qualquer dia, em que sentem as pernas a ceder, o olhar a ficar embaciado, e nem a alma repleta de recordações consegue resgatar o seu estatuto de sabedoria e respeito.

Rostos tristes de olhar vazio, de quem já não espera nada da vida, limitando-se a empurrar os dias sem alento nem esperança.

Enfrentaram guerras e pobreza, trabalharam arduamente e venceram tempestades, mas são agora náufragos da vida, sem cais onde possam ancorar de forma livre e segura.

Vivem, em muitos casos, em instituições, cingidos a exíguos espaços, onde lhes é assegurada a sobrevivência, mas onde a necessária normalização dos procedimentos silencia as suas vozes e anula a sua identidade.

Olham as fotografias, como a mais preciosa relíquia do espólio de uma vida, por contarem histórias e confirmarem que um dia também foram jovens cheios de sonhos.

Mas não podemos ver esta realidade como uma inevitabilidade, a não ser que nos conformemos com ela,  na certeza, porém, que estará a nossa espera.

Citando o Cardeal Tolentino de Mendonça “a pandemia foi o tirar do véu, o tirar do filtro. Hoje vemos muito melhor“.

Que a máscara que por agora temos de usar não sirva para tapar o que não queremos ver!

(Manuela Resendes)