Hoje é dia de Santo António!
Não há sol, nem manjericos, e o dia amanhece cinzento e chuvoso, triste como o silêncio das marchas e a falta de colorido do arraial.
O silêncio e o espaço ganham outra dimensão na minha mente, mas nem a contemplação do mar me transmitiu a sensação de paz. Vi uma paisagem agreste, de mar crispado e ondas que se atiravam com violência contra as rochas, para aí morrerem lentamente.
Arrisco numa viagem pela infância, percorrendo a memória dos cheiros, da luz e do som do sino, com as badaladas a ditar as horas e a cronologia dos acontecimentos.
Detenho-me na imagem do farol, local onde todos os sonhos eram possíveis e que essencialmente permitia viver o que nunca tinha antes imaginado.
Lugar de todos os contrastes, que exercia sobre mim um fascínio particular, permitindo-me acreditar em momentos de eternidade.
Sítio mágico do instante e da sabedoria, onde o meu olhar me permite não apenas ver mas também desvendar.
É da memória desta luz que varre o mar, desta presença tão solitária, e que tão boa companhia faz, onde o tempo parece não ser contado, acompanhando apenas o suceder das estações, que vou percorrendo os mesmos sítios, mas agora com um outro olhar.
(Manuela Resendes)