
Neste tempo de incerteza, onde não sabemos bem onde vão dar os caminhos que percorremos, senti necessidade de revisitar a minha infância.
Por vezes é preciso desatar os nós do fio que une passado, presente e futuro, para podermos calibrar a bússola e encontrar novamente o norte.
Viajar através do pensamento, pelos lugares onde fui criança, deambulando por estradas e campos, vendo as mesmas casas e os mesmos rostos e sentindo os mesmos cheiros de um tempo agora reencontrado.
Mas num olhar mais atento, senti um vazio, vislumbrei sombras e ouvi o eco da falta de mim própria.
Vi crianças de rostos desconhecidos, rindo e saltando nos mesmos espaços e com a mesma alegria barulhenta. Olharam-me com indiferença, como se aquele sítio não tivesse também sido meu um dia.
Cruzei-me com rostos carregados de marcas do tempo, com ruínas cobertas de plantas invasoras, que ocuparam o espaço deixado pelos seus habitantes, devorando a sua história e as suas memórias.
Entro no “minha igreja”, onde os silêncios estão à espera de serem escutados, para melhor compreender a biografia do meu íntimo e olhar a janela da minha alma.
A partir deste olhar ampliado do meu lugar no mundo, percebi que se deixar uma pequena dose de esperança a quem vive despido dela deixo algo que vai para além de mim.
