
Gosto de escrever quando a casa se enche de silêncios, quando pressinto a presença dos outros, mas sem ruído, e o tempo é apenas assinalado pelo sino da igreja.
Ouço ladrar o cão do vizinho, os pássaros parecem-me felizes, entre o voo e o canto, e de longe chegam-me risos de crianças.
Com o eco destes sons vou-me desligando da realidade e confinando no meu reduto de mistério e singularidade para uma conversa comigo própria. Num misto de inquietude melancólica e de nostalgia serena vão fluindo perguntas e respostas, mesmo relativamente a questões para as quais não tinha encontrado ainda solução.
Vou assim abrindo as portas de sótãos e arrecadações da mente, sítios mais escuros e sombrios, e soltam-se emoções e sentimentos, que ficam plasmados em folhas brancas, libertos de opressão e passíveis de serem melhor compreendidos.
Alcanço desta forma o que há de mais profundo e subtil em mim, conferindo maior transparência e leveza à minha forma de olhar a realidade.
E num acolher de horizontes, cada vez mais extensos, vou ganhando infinitas possibilidades de escolha e cada vez maior gratidão à vida de que sou portadora.
(Manuela Resendes)

Disse e repito: escrever é uma forma de lutar contra a morte. Por isso, nunca o deixes de fazer, pelo menos enquanto Deus te permitir essa lucidez, bom-senso e sensibilidade.
Lembro as palavras de Goethe que estampei na contra-capa do meu livro DELINQUÊNCIA…: “Se o Homem, vencido pela angústia, emudece, a mim concedeu-me Deus contar o que sofro”.
E tu tens tantas coisas para contar!!!!
Abraço
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Obrigada!!!
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