Fim de agosto

O vento já faz voar as folhas secas caídas no chão, pressentindo-se nesta mutação da natureza a aproximação do final do verão.

Os fins de tarde com cheiro a amoras, o doce dos figos acabados de apanhar e a frescura das uvas, degustadas sob uma luminosidade perfeita, faz amadurecer desejos antigos.

Gosto de sol manso e luar intenso, na companhia de um bom livro e ao som de boa música, proporcionando viagens sem mapa, seguindo o rasto de um fio azul.

É neste embalo que sou transportada a memórias de infância, o brinquedo preferido, os amigos reais e imaginários bem como aventuras e sonhos pintados com as cores do arco-íris.

As corridas no trigal e o pisar do restolho remetem-me para ausências consentidas em momentos levados pelo vento, que se eternizam na poesia.

Sou muitas vezes previsível e outras tantas surpresa, nesta sede infinita de procura de respostas, mesmo que me leve ao que nem ouso compreender.

Mas é no aconchego de um abraço prolongado, na gargalhada genuína e por vezes no silêncio, que melhor me regenero das mágoas do mundo. Também sei que há sempre um raio de sol que atravessa as nuvens escuras e os dias que são mais noite do que as noites, desde que saibamos revestir o nosso tempo de Amor e o saibamos oferecer ao mundo.

(Manuela Resendes)

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