Dias sem estação

Procuro a essência do meu tempo entre as brumas dispersas e as chuvas brandas.

Nas nuvens escrevo palavras que são ecos de vida, de sonhos e noites de céu estrelado, de viagens e luas de presságios .

Com o direito e o seu avesso desenho paisagens sem limites onde invento eternidades, rompendo o azul infinito da mar.

Sinto o cheiro das águas que passam com pressa nos riachos, nas ondas que morrem na praia e nas que brotam límpidas de nascentes escondidas.

O vento passa por mim sem me alcançar, de tão imersa que estou em lembranças distantes.

E sem pensar se é Verão ou Outono, Primavera ou Inverno, as palavras vão-se enchendo de realidade dando sentido ao meu sentir!

(Manuela Resendes)

Tudo e o seu contrário

Sou vazio e sou eternidade

Alicerce de gota orvalho

Caminho pelo meio do atalho

Pisando pedras de ambiguidade

Invento tardes já renovadas

Feitas de azuis e andorinhas

Desprezo as vozes mesquinhas

Onde faltam as palavras aladas

E quando sinto o perfume do vento

Em noites prenhes de amanheceres

Vejo luzes de lentos incandesceres

E ganho assim novo alento

(Manuela Resendes)

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

Ser português é ter um orgulho envergonhado no nosso país, em que apesar de constantemente dizermos que “Portugal nunca vai chegar a lado nenhum” ficamos com os olhos marejados quando ouvimos o hino nacional.

Ser português é não ser organizado, mas sermos os melhores a improvisar, a inventar e desenrascar caminhos alternativos e improváveis.

Ser português é emigrar por necessidade, mas levar com orgulho aos quatro cantos do mundo as nossas tradições, gastronomia e cultura.

Ser português é ter inveja do sucesso alheio, proporcional à sua proximidade, corroborando o ditado de que “santos de casa não fazem milagres”.

Ser português é ser grande e pequeno, o melhor e o pior, numa bipolaridade que nos é tão característica.

Ser português é ser dos europeus mais pobres, mas dos mais solidários.

Ser português é viver num país de grandes desigualdades, mas em que o parecer vale mais do que ser e as dificuldades são disfarçadas pelas aparências.

Ser português é não ser pontual, nem cumprir prazos, porque somos sempre os mais atarefados apesar de sermos dos menos produtivos.

Ser português é ter o melhor do mundo do futebol que nos apaixona, e mesmo assim só gostamos dele a espaços, mas se um estrangeiro o critica não toleramos e logo nos unimos em sua defesa.

Ser português é ser nostálgico, saber o que significa a palavra saudade e ter alma de poeta.

Ser português é ser do mundo, sempre sonhando com Portugal!

(Manuela Resendes)

Dia dos Açores

Ser dos Açores é ter sempre na linha do horizonte o mar, que nos faz sonhar com o que está para além da Ilha, num misto de curiosidade e desafio.

Ser dos Açores é viver de forma serena e com sabedoria no meio de tempestades, sismos e vulcões.

Ser dos Açores é saber que Verão não é sinónimo de sol radioso e que se podem fazer piqueniques no Inverno.

Ser dos Açores é sentir a mística das ilhas, admirar a beleza dos verdes a perder de vista e todos os tons de azul que nos rodeiam, mas também sentir o ambiente misterioso quando as ilhas se cobrem de bruma.

Ser dos Açores é ser alegre e melancólico, enigmático e raro, grande e mesquinho, numa flutuação que acompanha a metereologia.

Ser dos Açores é viver na ânsia de sair, para logo sentir saudades de voltar.

Ser dos Açores é ver na ilha o nosso porto seguro, admirar a beleza da exuberância de caldeiras e fumarolas, usufruir das águas quentes que brotam da terra, mesmo sabendo que tudo isso resulta de perigosos movimentos geodinâmicos.

Ser dos Açores é ter uma fé inabalável no Espírito Santo, que se expressa de forma transversal a todas as ilhas nos Impérios onde a solidariedade está muito patente.

Ser dos Açores é ter o espírito moldado pelo isolamento, mas fazer desta circunstância força e inspiração sem esquecer aqueles que por necessidade emigraram para os quatro cantos do mundo, sempre com a Ilha no horizonte e no coração.

Ser dos Açores é ser da ilha e ser do mundo!

(Manuela Resendes)

Irmãos …

Os irmãos são os nossos primeiros ídolos, amigos e cúmplices. Fazem parte das nossas primeiras memórias de infância, parceiros de aventura e aprendizagem.

Com eles aprendemos a partilha, a camaradagem e também a conquista do nosso espaço. Dividimos e multiplicamos o amor, nem sempre equitativamente, nem sempre da mesma forma, mas seguindo sempre o lema de “um por todos e todos por um“.

Aprendemos desde cedo que cada pessoa tem as suas peculiaridades, que devem ser respeitadas, embora possam também gerar alguns desentendimentos que rapidamente são sanados, com uma nova brincadeira, sem mágoas, nem ressentimentos.

Vamos crescendo, e a vida vai-nos levando para sítios diferentes, mas sempre com o sentido de pertença a um lugar chamado família.

E nos momentos de reencontro a partilha das histórias de infância faz soltar gargalhadas e olhares cúmplices, são feitas novas revelações e revive-se momentos marcantes, dificuldades, alegrias e tristezas.

Partilha-se com as novas gerações essas vivências e escrutinam-se semelhanças físicas ou de personalidade, e conclui-se sempre que o impacto da genética é grande.

Os irmãos são parte de nós, que vivem de forma autónoma mas sem os quais não nos sentimos inteiros…

Feliz Dia da Criança!

(Manuela Resendes)

No prelo…

Tenho recebido mensagens a questionar o porquê de estar mais ausente do meu blogue Saudeacores.com nas últimas duas a três semanas.

Agradeço a preocupação manifestada, mas a razão é muito simples e feliz: encontro-me a ultimar a edição de um livro que compila alguns dos textos mais significativos que tenho partilhado junto de todos vocês, aliás seguindo a sugestão de muitos leitores. Têm sido tempos de muito trabalho, mas também de muita satisfação.

Muito em breve voltarei ao vosso contacto regular, com mais novidades sobre o livro e, sempre, partilhando o meu coração!

(Manuela Resendes)

Sábado de Aleluia…

Todos nós sonhamos com a possibilidade de viver novas experiências, conhecer novos sítios e experienciar novas formas de vida…

Mas este é o tempo de renascer, qual fénix, das derrotas da vida, das perdas irreparáveis e dos caminhos sombrios.

Acordar a cada manhã com o perfume da esperança, ressurgir inteira a cada sonho desfeito e ser ágil no voo que permite transpor obstáculos.

Aceitar a transmutação da vida, que não é imune ao tempo e às memórias, mas perceber que a vida se multiplica, numa aventura fecunda, que tem de ser acolhida com espírito livre mantendo a nossa irredutível individualidade.

E este Sábado de Aleluia, repleto de significado, pode constituir a alavanca que permita abrir a porta, para um mundo reconfigurado onde nos possamos sentir mais plenos.

Assim o futuro encontrará o espaço de expressão dos nossos desejos e da nossa Fé!

(Manuela Resendes)

Semana Santa…

O dia está cinzento e chuvoso, num cenário a preto e branco que convida ao recolhimento e à reflexão.

Gosto destes despertares numa solidão consentida, no meu lugar de pausa, num vazio que se enche de plenitude, onde apenas escuto o meu pensamento. São portas que se abrem para tempos interiores, onde busco o essencial na sombra do acessório.

Afasto-me da aceleração do mundo, do massacre das notícias diárias e do barulho do quotidiano, para aos poucos, e de forma silenciosa, aproximar-me de mim própria.

Estes momentos exercem em mim um fascínio e permitem elevar-me a um outro patamar de conhecimento, que se revela libertador.

E é neste escutar de silêncios, que emergem das profundezas da terra, que vou encontrando “instrumentos” para lidar com os enigmas e com as evidências da vida, não permitindo que a estranheza destes tempos me roube a esperança.

Porque o desabrigo também pode fortalecer a nossa aliança com a vida…

(Manuela Resendes)

Abril…

Abril, mês de sol, chuva e cheiro a terra fresca. Os campos estão floridos, perfumados, onde também proliferam ervas irreverentes.

As tardes lentas e suaves são palco de muitas vontades, e as auroras, revestidas de orvalhos levados pelo vento, deixam um rasto de vitalidade donde germinam sementes e poemas.

As marés, agora mais ordeiras e com um ritmo melodioso, abraçam longas escarpas e praias ainda desertas.

O colorido destes dias, assoma à minha janela, convidando a um brinde à liberdade, mas cá dentro ouço o estrondo da guerra, de muros destruídos que se levantam.

No meio do pó, também se respira medo, opressão e tristeza. Ecos subterrâneos de notas dissonantes, rostos envelhecidos pelo futuro roubado e pelas marcas das lágrimas que já secaram…

Sonho com a alvorada que “rasgue” as trevas dos olhares e que paulatinamente se comece a vislumbrar o céu.

Que abril nos traga a Paz e a Liberdade!!!

(Manuela Resendes)

Bem-vindo Jaime

Chegou o Jaime…

Precisávamos de um grito de paz

E ecoou o teu choro

Precisávamos de um raio de sol

E foste luz, numa aurora sombria

Precisávamos de um novo alento

E trouxeste a magia da alegria

Precisávamos de ver germinar esperança

E tu és promessa e futuro

Precisávamos colorir a primavera

E tu és um bebé arco-íris

Precisávamos de boas emoções

E tu és amor em estado puro

Precisávamos de abrigo para tempestades

E os teus olhos são o farol

Foste uma dádiva dos deuses, e chegaste,

Quando o Mundo precisava de ti, Jaime

(Manuela Resendes)