Comemorou-se ontem mais um aniversário do nascimento da poetisa Sophia de Mello Breyner (Porto, 6 de novembro de 1919 – Lisboa, 2 de Julho de 2004). Em sua homenagem junto deixo este poema da sua autoria sobre o mar, num dia em que as suas ondas parecem atingir mil léguas de distância…
Mar
Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.