Gosto de observar o rodopio da multidão que se desloca num aeroporto, retratando muitas formas de existência e de condições de vida…

Desde as chegadas emotivas do reencontro, ou apenas fazendo parte de uma rotina de vida, às despedidas carregadas de sentimento e angústia, ou apenas de circunstância, há toda uma panóplia de circunstâncias, retratadas muitas vezes num silêncio carregado de significado.

Pressentimos a felicidade dos casais que partem para destinos paradisíacos imbuídos do espírito do Amor, com promessas de eternidade,  mas também  à partida sofrida, numa luta contra o relógio para chegar a tempo da última possibilidade de encontro com alguém importante na nossa vida.

Vêem-se grupos de pessoas que se deslocam como se não tivessem vontade própria,  obedecendo cegamente à vontade de um qualquer líder. Amigos que partem para uma viagem radical,  de cultura ou tão somente para passarem uns dias descontraídos em boa companhia, não faltando as piadas de circunstância e sonoras gargalhadas.

Famílias que finalmente encontram espaço para passar um tempo juntos, em destinos que convidam ao descanso do corpo e da mente, aliviando consciências do tempo “roubado” antes por razões mais ou menos prementes.

Vemos filhos que transportam pais e pais que transportam filhos, numa vida que lhes roubou a autonomia, ou que nunca a ofereceu, com semblante mais ou menos leves consoante o propósito da viagem e a capacidade de aceitação.

Partem os que corajosamente vão a procura de uma vida mais digna, deixando para trás tudo o que é seu.

Vão em passo apressado executivos para participar naquela reunião tão importante, levando na bagagem horas de trabalho árduo com vista ao reconhecimento e à promoção, com uma falsa sensação de imortalidade.

Outros ainda partem para destinos longínquos, na esperança de uma cura já muitas vezes negada, ou tão somente na procura de um sentido para uma vida vazia, onde a viagem e o último reduto da esperança.

Este é um bom espelho da sociedade… um reflexo da vida!

(Manuela Resendes)