Este é um tempo inquietante e de recolhimento…
O mundo que andava a uma velocidade estonteante foi obrigado a fazer uma travagem abrupta, para tentar vencer o inimigo desconhecido (covid-19).
Aos poucos, o vírus foi contaminando país a pais, atingindo neste momento praticamente todo o planeta, tendo a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarado a situação de pandemia, algo que não imaginávamos que fosse possível visto estarmos confiantes nos avanços da ciência e da tecnologia.
Assistimos perplexos à paralisação do Mundo e à inversão repentina das prioridades, sendo que a cada dia temos de nos adaptar a um novo modo de vida.
Todos os que não são imprescindíveis ao combate à pandemia devem, se possível, permanecer em casa, e ficar isolados de contactos presenciais, numa tentativa de conter a disseminação do covid-19.
Tudo nos parece um paradoxo: achávamos que as 24 horas do dia não eram suficientes para tantas solicitações, e agora num novo mundo sem eventos, sem espetáculos, sem espaços públicos de convívio e muitas vezes sem trabalho, confrontamo-nos com o silêncio e a reflexão.
Voltamos a ter tempo para ler, ouvir música, estar em família (mesmo que em modo restrito), mas muitas pessoas já não o sabem fazer, gerando mais stress pela simples falta do stress diário.
Também não podemos comemorar aniversários, casamentos e nem tão pouco despedirmo-nos de entes queridos que partem, porque por agora a ordem é para nos mantermos afastados e a comunicação é mais do que nunca virtual.
As viagens de sonho tornaram-se em muitos casos um pesadelo, com as restrições que vão sendo impostas a cada hora pelos países e companhias aéreas, e o sonho passou agora a ser chegar ao nosso porto seguro.
A discriminação e a segregação não se fazem agora pela cor da pele, nem pela religião ou condição social, mas sim pela probabilidade que cada um de nós tem de ser potencial agente de contágio.
Os nossos ídolos já não são músicos, artistas ou atletas, hoje são os que estão na linha da frente de combate à pandemia, destacando-se os profissionais de saúde que terão a tarefa mais difícil e arriscada.
Os “campeonatos” já não são de futebol, pois deixámos de ser meros espetadores para passar a ser agentes ativos de outra competição, em que vestimos a camisola do nosso país para que este seja exemplo de reação e contenção deste inimigo comum ao mundo.
Ainda não é possível prever o poder transformador, a todos os níveis, do que estamos a viver neste tempo difícil, mas sabemos que nunca mais as coisas serão como dantes.
Vamos também sendo “contaminados” pelos exemplos de solidariedade e ajuda intergeracional, que nos dão esperança num futuro com uma sociedade mais humanizada, justa e empática.
Mas o nosso maior contributo é cumprir escrupulosamente todas as recomendações das autoridades de saúde e manter a serenidade e bom senso que a situação exige.
Agora que ouvimos muito melhor os sons da natureza, sem ruído de fundo, que a saibamos respeitar mais, deixando de cometer atrocidades que põem em causa a sustentabilidade do planeta e o futuro das gerações vindouras, até porque já aprendemos que a natureza é invencível!
(Manuela Resendes)