
E de forma repentina a temperatura baixou e o Outono corre indiferente, num tempo vazio onde nem a palavra nem o silêncio aquietam a alma.
O frio que sentimos vem também de dentro para fora, do gelo da indiferença, de silêncios feitos de hostilidade em janelas abertas para espaços plenos de solidão.
Os dias são mais pequenos e menos luminosos, e as nuvens ocultam a visão da lua.
O calendário lembra-nos que se aproxima o Dia de Finados, mas os cemitérios fecham-se, deixando ausências tatuadas no nosso coração e uma saudade inquieta.
As luzes de Natal vão-se acender, mas nāo vão dar brilho aos dias em que as distâncias ficam desenhadas nas estradas da nossa memória.
Mas assim como por entre a enigmática bruma, surge um raio de sol que faz luzir a gota de orvalho, um olhar atento pode derreter o gelo de um dia triste.
Venceremos assim o frio e o medo, com coragem e ousadia, na certeza de que os abraços nos voltarão a dar abrigo e a melancolia nos irá revelar o céu!

(Manuela Resendes)