
O dia nasceu escuro e triste e as nuvens de tão pesadas transbordaram. O vento hoje é feito de melancolia, os olhares são de mar e prevalecem as velhas vontades.
Acolho o silêncio desnudado de onde brotam muitas lembranças, doces memórias e algumas histórias.
A tua chegada a casa era sempre o ponto alto do dia, trazias a segurança, a novidade e o mimo. Lembro as tardes em que pressentia a preocupação do teu atraso e tudo em mim ficava em alerta, com idas e vindas constantes ao ponto de onde te poderia avistar ou ouvir o tão característico barulho da tua chegada.
A “algazarra” acalmava com a tua presença e à tua volta todos queriam ouvir as novidades do dia, que com a tua voz serena ias dizendo, como quem conta uma história, transformando acontecimentos banais em verdadeiras aventuras, fazendo assim as nossas delícias.
Lembro o tempo em que a terra era amanhada, enquanto eu partilhava a espera da água da nascente, sem nunca te querer perder de vista.
Lembro a tua inteligência e cultura, o teu espirito visionário e a sabedoria daquela palavra amiga a todos e a qualquer um, tocando o coração como só as almas bondosas o sabem fazer.
Lembro as soluções improváveis que inventavas para resolver problemas do quotidiano, que me fascinavam, pois sempre gostaste mais de pensar do que executar (e como te compreendo Pai!).
Eras sem duvida o nosso porto de abrigo, de onde muito cedo nos deixaste partir sabendo que iríamos enfrentar tempestades, mas com a certeza de que só assim nos poderias oferecer o Mundo. Sentias depois aquele orgulho de nos ver voltar sãos e salvos, vencendo os desafios e sempre com vontade de fazer mais e melhor.
Ficamos vazios com a tua partida, mas com o tempo foste-te tornando presente nos desenhos das nuvens, nas estrelas brilhantes e no alto do horizonte. E neste encontro o conforto da tua presença aconchega-me…
Sei que olhas pela Mãe, por nós todos, e nos momentos de maior provação fazes-te presente na tua forma subtil e sensata, e com aquela “malícia” deliciosa, feita de um sentido de humor não explicito e tão teu.
Pai, o meu almoço hoje é favas porque vens almoçar comigo e fiz o teu prato preferido…
Beijinhos para o Céu… Pai
(Manuela Resendes)

“O Pensador” de Rodin está muito bem “ilustrado” pelo teu texto (Já não me admiro porque estou habituado à tua excelente escrita).
Este texto tocou-me particularmente, porque fez no dia 21, deste mês, 52 anos que meu pai faleceu. Tinha 71 anos. Claro que, tal como tu, não os vamos deixar morrer. Tanto assim é que em 1991dediquei um livro, inteirinho, a meu pai. Livro este intitulado “Laivos da Vida de Jacinto – O Lavrador -“. No teu texto vi ideias parecidas com as minhas. As ideias ditadas pelo amor filial não devem diferir muito umas das outras.
Obrigado por me fazeres recordar o que nunca esqueci…
Beijinho.
FELIZ ANO NOVO
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Obrigada!!!
Nunca serão esquecidos…
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